Esta
história tem dois personagens: o caipira e o advogado e ela me foi contada por
um amigo do advogado. Passou-se há sete ou oito anos nas proximidades de São Paulo.
Vai lá
um dia em que nosso amigo advogado resolve comprar um sitio,
de poucos alqueires,
com a intenção de construir
uma casa e nela passar seus fins de semana. Como não há nascente no sitio, resolve
mandar cavar um poço, quando fica
sabendo que seu vizinho, um caipira que ali mora há
muito tempo, tem em sua propriedade uma nas-
cente com água boa e farta. Procura o vizinho e faz a proposta:
— Eu instalo um cano de uma polegada de
diâmetro na sua nascente, conduzo a água para
o meu sítio e lhe pago x reais
por mês.
A
proposta é aceita na hora.
Passa-se o tempo e o advogado resolve
im- plantar no sítio
uma criação racional
de porcos e, para isso, vai precisar de mais água. Volta a pro- curar o caipira e lhe propõe
trocar o cano de uma polegada por um outro de duas polegadas de diâ-
metro e pagar 2x reais por mês a ele.
O caipira escuta a proposta, não dá resposta imediata, pensa, e passados
alguns minutos responde que não aceita a proposta.
— Mas, como? – pergunta o advogado. Tem
água sobrando, por que não me vende mais e as- sim também ganha mais?
É que num tá certo, retruca o caipira, e explica com um gesto.A água que você me E vosmecê qué
paga passa por aqui me pagá o dobro.
E
a que passa por aqui?
Com a nossa linguagem a questão fica
assim: um círculo de diâmetro 1 cabe 2 vezes num circulo de diâmetro 2 e ainda
fica sobrando espaço:
Ou ainda: se o diâmetro de um circulo
dobra, sua área não dobra. Ela “mais que dobra”.
O que o caipira não tinha condições de perceber era que o pagamento
correto seria 4x (quando
duas figuras são semelhantes a razão entre suas áreas é igual ao
quadrado da razão entre seus comprimentos correspondentes). Mas
para perceber que 2x é pouco, basta visualizar um cano dentro do outro.
Luiz Márcio Imenes
José Jakubovic
Nenhum comentário:
Postar um comentário